quarta-feira, 28 de outubro de 2009

8ª jornada

Benfica-Nacional, 6-1
Goleada rima com... tourada

O Benfica é o novo líder do campeonato, depois de golear o Nacional por 6-1 e beneficiar do empate do Sp. Braga em Vila do Conde. Nove meses depois, os encarnados regressam ao primeiro lugar, uma semana antes de visitarem o líder deposto.

Foi, uma vez mais, o Benfica das goleadas (ou touradas, tantos os «olés», além da confusão no túnel ao intervalo) a apresentar-se em cena, aquele que se agiganta na arena quando espicaçado. Fica o aviso, mais um. A quarta goleada da época (8-1 ao V. Setúbal, 4-0 ao Belenenses e 5-0 ao Leixões), a segunda consecutiva (e que o Everton dificilmente esquecerá), surgiu com a naturalidade de quem ambiciona ser campeão e não foi preciso... prometer.

Sete golos, o do Nacional em fora-de-jogo, um bem anulado a Saviola pelo mesmo motivo, duas grandes penalidades convertidas (uma forçada por Aimar), três grandes defesas de Bracali e duas expulsões foram os ingredientes de um jogo, desde logo temperado pela rivalidade de dois treinadores que não se suportam.

Jorge Jesus antecipou as dificuldades, só não imaginou que César Peixoto se lesionaria no aquecimento. A emenda foi determinante, com Fábio Coentrão a brilhar em campo e a mostrar que é jovem mas pensa como adulto. Já Manuel Machado alterou uma equipa que se adapta a qualquer esquema, deixando no banco Pecnik, uma das figuras de Bilbau. Leandro Salino também ficou, entrando Tomasevic para a defesa, Edgar Costa para o miolo e João Aurélio para a frente.

O Nacional chegou à Luz com estatuto de quarto classificado, que partilha com Sporting, Rio Ave e Marítimo, e o acerto na estratégia durou 17 minutos, altura em que o Benfica inaugurou o marcador. Até então, falhavam ambos no último passe, com as defesas a mostrarem argumentos, ainda que Edgar Costa tenha protagonizado o primeiro remate do desafio logo aos seis minutos e que Quim desviou para canto.

Tudo fácil para os encarnados. Aimar colocou na esquerda, Coentrão cruzou rasteiro e Cardozo empurrou com afinação. Cinco minutos depois, Bracali negou o 2-0 a Di María.

Ruben Micael, que tanto queria marcar, acabou por assistir Edgar Costa no empate, aos 28 minutos. O avançado ganhou na corrida, bateu Quim com um remate na passada, mas estava adiantado.

Mais protestos se seguiriam, depois de Vasco Santos anular o golo de Saviola. Di María, de livre, colocou na área, Luisão antecipou-se à defesa e cabeceou para defesa incompleta de Bracali. Na recarga Saviola colocou dentro da baliza, mas o fora-de-jogo foi desta vez assinalado e bem.

Ainda antes do intervalo mais uma grande defesa de Bracali, a remate à queima-roupa de Ramires, também antes do intervalo o 2-1, por Saviola. Fábio Coentrão serviu o argentino e este cabeceou para a vantagem.

Os quatro dedos de Jesus

O segundo tempo arrancou com uma grande penalidade. Aimar sentiu a proximidade de Felipe Lopes e deixou-se cair, o castigo máximo foi assinalado. Cardozo encarregou-se de marcar e... não falhar.

Entrou Mateus, depois Pecnik no Nacional, mas foi o Benfica quem continuou a pressionar. Coentrão fugiu na esquerda, cruzou para Cardozo, este atrapalhou-se, mas ainda conseguiu servir Saviola, que atirou para o 4-1. Jorge Jesus virou-se para o banco do Nacional e mostrou quatro dedos, o número de golos marcados, em jeito de provocação.

A segunda provocação, a da vitória consumada, mas não ainda por estes números, deu-se aos 70. Saíram Aimar e Saviola, entraram Carlos Martins e Ruben Amorim. A gestão. O médio acabou por sair lesionado para a entrada de Nuno Gomes, seguiram-se mais dois golos, um do avançado, e a festa encarnada.

Nunca uma segunda-feira terá sido tão reconfortante, sobretudo para os mais de 47 mil adeptos presentes no Estádio da Luz. No final, buzinas na rua.

Fábio Coentrão
Não estava previsto figurar no «elenco» inicial, mas foi chamado, à última da hora, para render César Peixoto que se lesionou no aquecimento. Os olhares concentraram-se na cabeleira loira do jovem extremo que ia jogar, pela primeira vez, a lateral, nas costas de Di Maria. Fez todo o corredor, num entendimento táctico quase perfeito com David Luiz e Di Maria, tornando o flanco mais activo do ataque dos encarnados. Logo nos primeiros minutos percebeu-se que ia ser uma das figuras do jogo, aproveitando muito bem o espaço vazio à sua frente, uma vez que Patacas só tinha olhos para Di Maria. Recorrendo à sua velocidade, surpreendeu a defesa madeirense com um sprint a puxar pela assistência perfeita de Aimar para depois, com espaço, colocar a bola na bota fulminante de Cardozo para o primeiro golo. No meio de muita luta com Edgar Costa, voltou a aparecer num canto curto para cruzar com precisão para o segundo poste, para Saviola fazer o segundo. A noite estava ganha. Mas ainda havia mais. Novo sprint e nova assistência para o quarto golo da noite.

Di Maria
O espaço que Fábio Coentrão teve para brilhar esta noite deve-o, em grande parte, aos movimentos deste argentino que não sabe estar quieto. Esta noite não marcou, embora tenha tido uma oportunidade soberana para isso, nem fez assistências, mas, quem viu o jogo, tinha a certeza que iria figurar nesta lista de destaques. É ao acelerador desta equipa. Quando carrega no pedal, arrasta toda a equipa atrás dele.

Saviola
Outro jogador que esteve em plano de destaque, sempre em jogo (com excepção no golo anulado), em constantes movimentações, a abrir espaços, a jogar e a fazer jogar. Apresentou o seu cartão de visita com uma excelente abertura para Di Maria que só não resultou no segundo golo porque Bracalli não deixou. Na área, deixa-se marcar para no último instante, num curto espaço de terreno, fugir à sua «sombra» e tentar a sua sorte. Fez um primeiro ensaio com a cabeça a uma recarga a um primeiro remate de Luisão, mas foi rápido demais. À segunda tentativa, não falhou. Num cruzamento largo de Coentrão, surgiu do nada para encostar de cabeça para o segundo do Benfica. Voltou a marcar na segunda parte, ao tornar simples o que Cardozo estava a complicar.

Pablo Aimar
Uma exibição «matreira», não só pelo penalti que «cavou», mas pela forma aparentemente «discreta» que esteve em campo. Não se deu muito por ele, não esteve directamente nos lances dos golos, mas estava sempre presente, lá atrás, a arquitectar a estratégia encarnada. Muitos dos lances de perigo nasceram de um passe do argentino que abria corredores para os «velocistas», como Coentrão, Saviola e Di Maria, explorarem. Quando não havia espaços, lá ia ele, com o drible curto a improvisar uma abertura. Numa dessas insistências, arrancou a grande penalidade que matou definitivamente o jogo. Saiu ao som de intensos aplausos.

Ruben Micael
Não marcou o golo que tinha anunciado para a Luz, mas deu um a marcar no meio de uma exibição razoável. Jogou atrás de Edgar Costa e João Aurélio, no território de Javí Garcia, estabelecendo, a espaços, a ligação com o ataque. Fez a assistência para o golo do empate e foi decisivo na manutenção do equilíbrio de forças na primeira parte. Quando desapareceu do jogo, o Nacional foi definitivamente ao fundo.





F.C. Porto-Académica, 3-2

Jesualdo Ferreira deu mais uma lição no 150º jogo como treinador do F.C. Porto. O aluno Villas Boas, com pinta de traquina, juntou os estudantes num bloco baixo, o Dragão bocejou durante uma hora mas despertou na medida certa. Mariano, o mal-amado, ficou em campo por teimosia do professor. Resultado: um golo e uma assistência. Farías saltou do banco para completar a obra. A Académica nunca desistiu (3-2).

O F.C. Porto foi medíocre, mau até, durante largo período. A vitória disfarça uma exibição sem chama de Dragão, antes do minuto 66, o momento de viragem. Os campeões cresceram, ameaçaram esmagar o último classificado, mas ficaram sempre demasiado perto da mediania. À medida das necessidades.

Os dragões entraram em campo com o mesmo figurino. Fucile surgia pelo corredor direito, na confirmação de uma temporada de grande nível. Um pique, um cruzamento, uma picada. O lateral terminava a sua história aí. Com cinco minutos de jogo, surgia Sapunaru.

A lesão de Jorge Fucile aumentava o cinzentismo do cenário. Uma noite fria no Porto, muitas cadeiras vazias (menos de 30 mil espectadores), um banco de suplentes sem grandes soluções ofensivas.

André Villas Boas motivava desconfiança generalizada. Pinta de Mourinho, estágio prolongado com um homem que deixou imensas saudades no Porto. Do outro lado, Jesualdo Ferreira, 150 jogos como treinador dos dragões. Em três anos, três campeonatos, afastando continuamente os contestatários. Silenciando-os, pelo menos. Ao primeiro deslize, eles voltam.

Mudem a música!

Aceleremos o filme de jogo para o minuto 41. Cristian Rodriguez dispara de fora da área. Rui Nereu faz a sua primeira defesa! Até então, mais Académica, um atrevimento proporcional à falta de inspiração do F.C. Porto, com insatisfação crescente nas bancadas. Desta vez, o problema não era Mariano. Hulk falhava, Fernando também, Meireles idem. Uma espiral de equívocos. Resta pouco ou nada para contar sobre aquela etapa inicial.

A festa de Jesualdo Ferreira, a celebração dos 150 jogos, começava mal. A música não encantava os presentes e apenas um convidado, indesejado por sinal, dançava com deleite. A Académica, arrumadinha e surpreendente, estudara bem a sua lição.

O espectador desinteressado olhava para o espectáculo com sobranceria. Ao intervalo, multiplicavam-se os bocejos. Os pessimistas faziam contas à vida e temiam uma metade, a segunda, ainda mais enervante. Poucas soluções no banco, clausura natural do adversário, nervos a acompanhar os ponteiros do relógio.

Rodriguez? Mariano!

Minuto 58. Jesualdo Ferreira repete a substituição operada frente ao APOEL. Sai Rodriguez, Mariano fica. Os adeptos soltam a maior assobiadela da noite. O uruguaio pontapeia uma garrafa e segue para os balneários, depois de passar pelo banco. O argentino tenta esquecer. Passa por dois adversários e cruza para fora. Mais dois pelo caminho, remate para a bancada. Não estava ali o problema.

Hulk abanou a baliza, com uma bomba ao poste, mas a noite preparava-se para a maior lição do professor. Mariano, esse mesmo, surge a cabecear na zona de penalty. As redes abanam, os SuperDragões saúdam o «patinho feio». A Académica sofre o primeiro golpe e cai logo depois, quando Mariano (sim, a repetição do nome é justificada) foge pela direita e cruza para Farías. Orlando falha o corte, Ernesto não perdoa.

Miguel Pedro ainda marcou um golaço, para premiar a arrumação estudantil, Ernesto Farías (partindo de posição duvidosa) bisou para a aparente tranquilidade mas Sougou recuperou alguns contestatários com o segundo golo da Académica, em cima da meta (3-2). O F.C. Porto iguala o Benfica, à condição, e fica a três pontos do líder Sp. Braga, antes do duelo entre encarnados. Alguém se importa com as dificuldades?

Mariano, em análise prolongada
Não é fácil escrever sobre este argentino. Mariano sobrevive numa espécie de relação amor/ódio com a massa associativa. E sobrevive, principalmente, porque Jesualdo Ferreira não o deixa cair. O antigo jogador do Inter é um atleta estranho, de facto. Diferente. Irregular, capaz do melhor e do pior na mesma jogada. O minuto 61, de resto, é a síntese do seu futebol. Ultrapassa em habilidade dois defesas, as bancadas empolgam-se e logo a seguir centra de forma perfeitamente disparatada. Muito racionalmente, que jogador é este? É um jogador com preocupantes níveis de instabilidade, acima de tudo. Tecnicamente é limitado, principalmente ao nível da recepção, mas possui também muitas valências: forte fisicamente, abnegado, experiente, dinâmico se estiver devidamente moralizado. Marcou o primeiro golo e cruzou para o segundo. Sai com as baterias anímicas carregadas, apesar de 60 minutos paupérrimos.

Farías, a importância de ser Ernesto
Tem uma relação privilegiada com o golo. Aprecie-se, ou não, o estilo. Lançado uma vez mais num período crítico do jogo, respondeu com as armas do costume: concentração e ferocidade máxima na área de finalização. Um golo pleno de oportunidade, outro culminado com um pontapé cirúrgico. Um suplente de luxo. Apesar do papel secundário dentro do plantel, é importante ser Ernesto.

Falcao, a falhar o que não pode
Segunda partida consecutiva a falhar escandalosamente um golo feito. Depois do APOEL, a Académica. O colombiano tem demonstrado atributos de excelência, mas terá de recuperar a frieza e a mordacidade na cara dos guarda-redes contrários. Farías está à espreita e fez dois golos em 30 minutos.

Raul Meireles, longe de ser comandante
Claramente abaixo do expectável. O F.C. Porto precisa urgentemente de um patrão para o período pós-Lucho e Raul Meireles não se consegue assumir nesse papel. Mais um jogo fraco, num início de época decepcionante.

Miguel Pedro, momento soberbo
Grande golo de um jogador que promete mais do que mostra. Senhor de uma técnica individual soberba, Miguel Pedro está a chegar àquela fase em que tem de aplicar uma dose generosa de consistência ao seu futebol. Repita-se, porém: um golo fantástico no Estádio do Dragão.

Rui Nereu, uma segunda vida
André Villas Boas terá gostado do que fez no jogo da Taça de Portugal e entregou-lhe a baliza. Na primeira vez a titular em jogos da Liga 2009/10, o guarda-redes formado no Benfica respondeu com serenidade. Aproveitou a frágil labareda do adversário para ir ganhando confiança e fez a primeira defesa apenas aos 41 minutos, imagine-se! Tem aqui uma bela oportunidade para contrariar a opinião dos maledicentes. Aqueles que sempre consideraram não ter qualidade para jogar num grande clube. Defesa extraordinária aos pés de Falcao, a dez minutos do fim. Sem hipóteses nos golos.

Pedrinho, o pragmatismo fica-lhe bem
Lateral de vistas largas. Ofensivo, veloz, não raras vezes sonhador. Esta última característica tem limitado a sua evolução na Liga. Prejudica-se por arriscar em demasia, não raras vezes. No Dragão mostrou estar mais pragmático. Segurou Rodríguez nos primeiros instantes, parou Hulk três ou quatro vezes sem falta e ainda teve forças para apoiar Sougou. Tem 24 anos e futebol suficiente para fazer uma carreira bonita.

Sem comentários: