domingo, 1 de novembro de 2009

9ª jornada - Sporting de Braga

Sp. Braga-Benfica, 2-0

«Triplete» à moda do Minho frente a um Benfica em branco

O Sp. Braga completou um «triplete» à moda do Minho. Derrubou Sporting, F.C. Porto e Benfica para ocupar isolada e orgulhosamente o cume da Liga 2009/10. Temos candidato. Ainda há dúvidas? Hugo Viana deu o mote, Paulo César aplicou a estocada final (2-0). Jesus viu a sua equipa ficar em branco, pela primeira vez na competição.

Jorge Sousa cometeu erros, o Benfica tem maiores razões de queixa, sim senhor. Mas nem tudo se explica por aí. Jogo grande, enorme. Um ambiente à altura de um embate entre líderes. A melhor defesa da Liga, com apenas um golo sofrido no Estádio AXA, recebia o ataque mais temível, com trinta cartões de visita em apenas oito jornadas.

A Pedreira engalanou-se, rochas polidas e bancadas bem compostas (24.188 espectadores). O Sp. Braga arrecada mais de 400 mil euros de receita, provenientes de ingressos que chegavam aos 65 euros para o adepto comum. O espectáculo foi bom, muito bom até, mas não cheguemos a tanto.

Em casa mandam eles

Feitos os parênteses, eis o futebol. O Sp. Braga entrou em campo sem deixar o Benfica respirar, utilizando a melhor arma do inimigo contra uma equipa habituada a dominar desde o primeiro minuto. Cardozo escapou ao amarelo, Coentrão não. Falta, bola para Hugo Viana. Assim mesmo, a frio, aquele pé esquerdo fez a bola passar por cima de onze benfiquistas e entrar junto ao ângulo da baliza de Quim. Golo portentoso!

O Benfica entranhava a desvantagem mas tentava responder de imediato. Valeu Eduardo, desviando remates de Ramires e Di María. Nas bancadas, desacatos evitáveis, com uma tocha a cair em cima de adeptos do Sp. Braga, devido à má colocação dos seguidores do clube da Luz.

Casos para não variar

Ao minuto 28, o primeiro caso. Após livre de Aimar, ouve-se o apito de Jorge Sousa. Luisão acaba por marcar de cabeça, mas o árbitro tinha assinalado uma falta de Cardozo sobre Leone, momentos antes. Discutível a infracção, fica o registo de uma decisão tomada antes de surgir o desvio fatal para a baliza do Sp. Braga.

A partir daí, o caldo foi-se entornando. O Benfica reagia mal, Mossoró e Alan obrigavam Quim a duas defesas providenciais e Saviola via um amarelo por simular uma grande penalidade.

O intervalo chegou com uma péssima propaganda para o futebol.Tudo começou em Dí Maria, que ficou agastado com o facto de os elementos do banco do Sp. Braga queimarem tempo. Fez um mau lançamento, terminou a primeira parte e o argentino chutou a bola em direcção ao banco arsenalista, cuspindo de seguida. Lançou-se a confusão, com contornos imperceptíveis para os jornalistas colocados na bancada.

Dividir o mal pelas aldeias

Sp. Braga e Benfica regressaram ao rectângulo de jogo com uma disposição estranha. Aí, percebeu-se que Jorge Sousa expulsara Leone e Cardozo, na sequência dos desacatos generalizados, no túnel. Não seriam os mais exaltados, pelo que foi possível constatar, mas louve-se ao menos a firmeza, a tomada de decisões, em contraste com a habitual assobiadela para o lado, em situações do género.

Domingos Paciência trocou Meyong por Rodriguez, abdicando da referência atacante para repor o stock defensivo. O Benfica respondia com Keirrison, pouco depois. Pelo meio, um par de decisões contestáveis, por parte do árbitro da partida. João Pereira, por exemplo, escapou ao segundo amarelo em lance com Dí Maria. O argentino manteve a chama visitante, Keirrison falhou a oportunidade mais escandalosa mas o Sp. Braga foi estabilizando.

Ao minuto 78, a machada final. Jesus não mexera mais na equipa, estranhamente. Matheus recebe na área, cruza para Paulo César e este fuzila Quim. Moisés salva um golo do Benfica pouco depois. O Sp. Braga saiu do palco como entrou: comportando-se como um grande. «Follow the leader», ouviu-se no AXA.

Hugo Viana, a selecção espera-o
O futebol português resgatou do esquecimento um dos seus maiores talentos. No Sp. Braga, Hugo Viana readquiriu o prazer pelo jogo. O resto esteve lá sempre. A certeza no passe - curto ou longo - a leitura sempre correcta da partida, a colocação inteligente no rectângulo do jogo e, claro, o remate mortífero. O remate que abateu a águia, logo aos sete minutos. Uma execução soberba de um jogador que tem tudo para voltar rapidamente à Selecção Mundial.

Mossoró, técnica prodigiosa
Não é forte nem especialmente rápido, mas tem uma técnica prodigiosa. Perfeito na forma como recebe e entrega a bola, como lê e concebe cada acção. Aos 38 minutos surgiu isolado sobre a esquerda e rematou às malhas laterais da baliza do Benfica. Logo a seguir, numa tabela genial com Alan conseguiu isolar o brasileiro. Talvez tenha saído demasiado cedo na partida, embora se perceba a opção de Domingos pela velocidade de Matheus para os últimos 30 minutos. O ano passado teve um rendimento muito intermitente com Jorge Jesus, mas está visto que é, de facto, um dos melhores valores desta Liga. Faz lembrar Deco na forma como corre e trabalha a bola.

Di María, inspirado e provocador
O melhor do Benfica. Impressionante a forma como consegue ganhar alguns lances aparentemente impossíveis. Remate fantástico aos 13 minutos, a obrigar Eduardo a uma grande defesa, fricção plena no duelo com João Pereira, iniciativas e mais iniciativas recheadas de perigo, sempre pela esquerda. A lamentar somente a atitude feia imediatamente antes do intervalo. Provocou o banco do Sp. Braga e esteve na origem de uma zaragata das grandes.

Moisés, o caça-gigantes
Torre inexpugnável, mesmo perante a ameaça de gigantes como Luisão e Javi García. Corte providencial aos 23 minutos, sobre um enleante Di María. Decisivo nesse momento, como haveria de ser noutros. Aos 79, por exemplo, evitou em cima da linha o golo do Benfica. Implacável no jogo aéreo, essencial na organização e na comunicação de todos os elementos da sua equipa. Aqui está um belo defesa central.

Saviola, que se danem Barcelona e Madrid
Atravessa um grande momento. Mesmo não marcando qualquer golo, espalhou a preocupação na defesa arsenalista em vários períodos. Recuou bastante no terreno, quis sempre ter a bola e compensou largamente o bloqueio criativo de Pablo Aimar. Reencontrou no Benfica a confiança que perdera em Barcelona e em Madrid.

Quim, absolvido
Adiou o segundo golo do Sp. Braga o mais que pôde. Três ou quatro belas intervenções. Sai absolvido desta derrota.

Paulo César, demoníaco
Domingos preferiu abdicar de Meyong e manter Paulo César em campo. A história do jogo deu razão ao técnico. Com mais espaço na segunda parte, foi um demónio à solta. Marcou com convicção perene o golo que sentenciou o destino da partida. Está em grande forma.


F.C. Porto-Belenenses, 1-1

O coração não consegue escamotear a banalidade

Entrar a assobiar para o ar, passear uma altivez desajustada, jogar sem intensidade nem ponta de dinamismo. Sofrer um castigo justo com o golo do Belenenses, despertar atordoado pela humilhação, reagir com o coração aos pulos e marcar pelo salvador do costume. Usar e abusar da paciência dos fiéis adeptos, usar e abusar da passividade e dos cruzamentos condenados ao esquecimento, sem magia nem criatividade.

Onde anda a calidez qualitativa de outras eras? Este F.C. Porto 2009/10 tem apresentado argumentos desinteressantes, mas camuflados com bons resultados e discursos cheios de lugares comuns. Esta igualdade diante do débil Belenenses, porém, só pode fazer accionar o sinal de alarme no reino azul e branco.

A primeira parte foi péssima, toldada por um futebol prosaico, corriqueiro. A segunda, agitada pela ondulação do escândalo, viveu da ânsia descontrolada. O F.C. Porto deixou para muito tarde o que tinha a obrigação de fazer bem cedo. Poderia ter ganho, sem dúvida, e isso seria o fruto natural da pressão exercida na última meia-hora.

Mas a química não flui no ataque, não entumece os mecanismos intermediários e fragiliza a defesa. Em resumo: frente ao Belenenses, o F.C. Porto exibiu-se com estrepitosa banalidade.

Três pontos cruciais na actuação dos dragões

Custa perceber as actuações recentes deste dragão. A liga gaulesa raptou três nomes importantes da última época (Cissokho, Lucho e Lisandro), mas isso explicará tudo? O problema não está no rendimento individual de Alvaro Pereira, Fernando Belluschi e Farías, mas sim na pobreza do menu apresentada semana após semana.

Ponto um: a equipa não teve qualquer dinamismo até ao intervalo; ponto dois: o Belenenses pouco atacou, mas quando o fez teve espaço para trocar a bola e respirar, dada a pressão atrofiada feita pelo Porto; ponto três: a perder, o F.C. Porto apenas sobreviveu graças ao coração gigante de alguns elementos. De resto, insistiu, insistiu e insistiu em lances mais do que previsíveis.

Ernesto Farías, uma vez mais ele, lá marcou um golo bem ao seu jeito. Depois, no forcing final, houve mais três ou quatro jogadas claras para golo. Mas aí os dragões não tiveram sorte nem engenho.

Um 4x3x3 que justifica ser repensado

Ao longo da semana, Jesualdo e seus pares evitaram ao máximo endereçar importância ao Sp. Braga-Benfica deste sábado. Compreensível. Mas a verdade é que o F.C. Porto não cumpriu a sua parte e agora fica refém do que sair da cimeira de líderes.

Caso algum dos contendores no duelo do Minho vença, os tetracampeões nacionais ficam a cinco pontos do topo. Uma distância generosa. O F.C. Porto só se pode queixar do seu mau momento e pensar urgentemente num plano alternativo a este 4x3x3 tão rudimentar.

Rudimentar não pela colocação das peças em campo, mas pela mobilidade inexistente e pelo pouco improviso. Nesta altura, por aquilo que temos visto, não é difícil anular as movimentações ofensivas do grande dominador dos últimos 25 anos do futebol nacional. Uma vez mais, o Dragão voltou a ter apenas 30 mil pessoas nas bancadas. A decepção da massa associativa é evidente.

Em nota rodapé, importa referir que o golo anulado a Ernesto Farías, aos 25 minutos, nos pareceu legal, pois a bola chega ao argentino encaminhada por um toque de Gavílan. De qualquer forma, será mais sensato reapreciar o lance através das imagens televisivas

Farías
Reclama mais oportunidades e Jesualdo Ferreira retribuiu. Chamado ao onze para o lugar de Radamel Falcao, o argentino provou que a festa do golo justifica uma mão cheia de passes falhados, alguma falta de mobilidade e um par de oportunidades perdidas. Marcou na etapa inicial, num lance invalidado de forma muito duvidosa, e repetiu a dose na segunda metade. Insistência de Falcao, um toque para dominar a bola e outro em jeito, para afastar Nélson da trajectória, rumo às redes adversárias. Chega.

Lima
Avançado com características interessantes. Média estatura, pouco peso, fugindo ao estereotipo de ponta-de-lança à moda antiga. Contudo, não foge a qualquer duelo físico. Logo nos primeiros minutos, fez falta sobre Bruno Alves e não mais se amedrontou nos duelos com o capitão do F.C. Porto. Esteve no Vizela em 2003/04, regressou ao Brasil mas parece determinado a agarrar nova oportunidade no futebol português. Ao sexto jogo, o primeiro golo, em desmarcação e com um pontapé frio, à saída de Hélton.

Zé Pedro
Os anos passam e perdura a sensação: o que falta a este Zé Pedro para merecer uma oportunidade num clube de maior dimensão? Trata a bola com carinho e esta faz-lhe todas as vontades. Cola-se ao pé esquerdo e sai, leve e redonda, para o destino escolhido pelo médio. No Dragão, o capitão do Belenenses deixou uma imagem de sacrifício extremo. Lesionou-se ao 11º minuto de jogo, em lance com Rolando, mas permaneceu no relvado. Jogou quase uma hora com o ombro direito imobilizado. Saiu pouco depois do golo de Lima, com a missão cumprida.

Bruno Alves
Perdeu alguns duelos com Lima, ainda que o golo do Belenenses não tenha nascido na sua área de jurisdição. No rescaldo da noite no Estádio do Dragão, poucos recordam a performance defensiva de Bruno Alves. Observando um cenário cinzento, a falta de soluções ofensivas, o capitão do F.C. Porto apostou regularmente nas subidas no terrenos, provocando desequilíbrios fundamentais para aumentar a chama. Cruzou, driblou, empolgou companheiros. Em lances de bola parada, registo para um par de cabeceamentos perigosos. Ao minuto 90, fez a trave abanar! É isto um capitão.

Hulk
Muito se falou dele durante a semana, após a chamada inédita para a selecção brasileira. Jesualdo Ferreira, mesmo sem pergunta sobre o tema, fez questão de congratular o avançado pela convocatória. Frente ao Beleneses, o talento bruto andou por lá, perto das explosões mas ficando-se pelos fogachos. A exemplo do que aconteceu com Diego, Luís Fabiano ou Anderson, os portistas correm o risco de perder uma estrela antes de observarem todo o seu brilho nos palcos nacionais. Vai ser enorme, sem dúvida. Para já, ainda não é.

Nélson
Bom guarda-redes, em nova chamada à baliza de um candidato inicial a sofrimento imenso. Na época passada, brilhou ao serviço do Estrela da Amadora. A formação da Reboleira tombou por dívidas, o Belenenses ocupou a sua vaga e resgatou Nélson, guardião que passou demasiados anos no banco do Sporting. No Dragão, mais algumas intervenções de qualidade, misturando estilo e atrapalhação. Eficaz, de qualquer forma.

Barge
Merece um destaque pelas sucessivas provas de adaptabilidade. Proveniente do Estoril, este médio português de 25 anos já foi de tudo um pouco, nos primeiros meses com a camisola do Belenenses. No Dragão, foi adaptado a lateral esquerdo, tremeu um pouco quando Hulk surgiu no seu corredor mas recompôs-se rapidamente e obrigou o F.C. Porto a privilegiar o flanco oposto.Bela desmarcação para o golo de Lima. Útil.

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