terça-feira, 10 de novembro de 2009

10ª jornada

Benfica-Naval, 1-0

Demorou, mas o muro também caiu na Luz



Na Luz, o muro também caiu! Vinte anos após a queda em Berlim, os encarnados tiveram trabalho tão grande como o colapso do Leste como o conhecêramos até 1989. Custou, demorou uma eternidade, mesmo. Mas a cabeça de um espanhol tão pensante como trabalhador derrubou os alicerces de uma Naval apostada em defender, e apenas defender, e que teve em Peiser a figura maior da noite da Luz.



A ocasião de ouro de ganhar pontos aos adversários consumou-se tarde, mas muito a tempo de conceder justiça a uma equipa que ia perdendo forças com o tic-tac do relógio, e, sobretudo, pelo desespero que foi ver o guardião adversário parar as bombas atiradas contra o maciço contrário. Assustou a Naval mesmo no fim, mas seria castigo pesado para a equipa de Jesus e para os milhares de gargantas roucas, que não cansaram de fazer os encarnados ter fé.

Terá sido da superstição?

Para os supersticiosos, o Benfica começou a atacar para Sul, ao contrário do habitual, por ordem de Peiser ao capitão Godemeche. Talvez por isso, a águia tenha começado a meio gás. Mas cresceu, cresceu tanto que no final dos primeiros 45 minutos já tinha boas ocasiões para chegar ao golo. Porém, havia Peiser que era ainda maior que o Benfica, com defesas espantosas, para desespero da causa encarnada.

Di María foi o primeiro a fazer o francês brilhar. Livre aos 14 e Peiser voou para defesa; Javi Garcia imitou o argentino e, lá estava o guarda-redes; Di María voltou a tentar, de bola corrida: deu no mesmo, com defesa a punhos. Daniel Cruz ia traindo Peiser, mas até as infelicidades dos colegas o francês defendeu.

E quando falhou, Saviola atirou no poste! O Benfica lançou mais ataques e o primeiro tempo fechou com mais um episódio que espelhou tudo o que se passou até então: Javi Garcia cabeceia, os adeptos começam a gritar golo, mas, lá está, Peiser, interrompeu-os. O guardião era o muro que na Luz não caía. A Naval tinha abdicado de fazer qualquer coisa lá na frente e no Benfica percebia-se uma coisa: Cardozo fazia falta, não só pelo pouco que jogava Nuno Gomes, mas também porque no que toca a meter a bola na baliza, o paraguaio fá-lo como ninguém.

Era o super-homem?

O acelerador encarnado estava no fundo, mas alguém injectou ainda mais potência. Jorge Jesus certamente, ao intervalo. O Benfica carregou, foi para cima da Naval, mais ainda se era possível. Mas a força toda de uma equipa e dos mais de 40 mil na Luz esbarrava nos poderes do Super-Homem. À medida que os colegas iam caindo, Peiser mantinha-se de pé. Defendia tudo, até com as pontas dos dedos desviou um golo (era mesmo isso) de Di María para o poste.

Nuno Gomes dera o lugar a Weldon, antes disso, mas era o guardião da Naval que merecia a crónica toda do jogo, o destaque maior e a nota mais alta. A oportunidade de ouro do Benfica em ganhar pontos aos rivais e encostar no Sp. Braga ia-se perdendo nas mãos de um francês, até porque as oportunidades sucediam-se minuto a minuto.

Com o tempo a passar, os encarnados tiveram de buscar força onde parecia não haver, sobretudo Di María. Mas seria o argentino a meter no alto da área contrária, onde apareceu o espanhol Javi Garcia, que numa imitação do voo da águia, saltou e cabeceou para onde Peiser não podia estar. A omnipresença é para os deuses. O francês saiu apenas como herói, como saiu Javi Garcia e restantes encarnados, pelo jogo e fé que demonstraram.

Peiser - Apesar do golo sofrido, Peiser é, sem dúvida, o homem do jogo. Durante a primeira parte, em três livres perigosos para a baliza da Naval, o guardião fez duas grandes defesas. Ou seja, aquelas que importavam, já que o remate de Aimar, aos 32 minutos, saiu por cima. Mas o francês já tinha travado os remates de Di María (14m) e de Javi García (19m). A acção do guarda-redes não ficou por aqui: aos 38 minutos, evitou o autogolo de Daniel Cruz; aos 40, mostrou-se atento a uma boa combinação entre Di María e Saviola. A sorte protegeu-o, aos 44 minutos. Peiser falhou a saída e Saviola atirou ao poste. Em cima do intervalo, fez mais uma grande defesa, na sequência de um canto apontado por Aimar. Javi García cabeceou a bola, de cima para baixo, e o francês voou para travar a bola. Olhando para os lances poderíamos interrogar: será que o jogador da Naval é de elástico?! Não, o guardião dos figueirenses é «apenas» humano. Peiser mostrou ter qualidade e bons reflexos. Na segunda parte, continuou a mostrar-se atento e fez mais umas quantas grandes defesas.

Diego Ângelo - Fez uma boa exibição, estando uns furos acima do seu companheiro do centro da defesa. Mostrou-se atento, usando o poder físico sempre que a velocidade falhou. O central não parou durante todo o jogo. Trabalhou e lutou, no ar e no terreno, sem se deixar intimidar pelo estatuto do adversário ou o ambiente que encontrou na Luz.

Javi García - É o homem que se coloca à frente da defesa, mas hoje quase não teve de fechar os caminhos para a baliza de Quim, uma vez que a Naval (basicamente) não atacou. Por isso, o espanhol aproveitou para subir no terreno e tentar ajudar os atacantes a romper a muralha defensiva contrária. Esteve perto de marcar. Aos 45 minutos teve o «azar» de apanhar pela frente Peiser, já que o médio tinha tudo para marcar. Estava no sítio certo à hora certa (ou, pelos vistos, não). Posicionamento e o cabeceamento perfeitos, que o guardião da Naval travou. Já perto do final, García marcou o golo que garantiu a vitória dos encarnados. Um prémio para o espanhol, que fez um bom jogo.

Saviola e Di María - A dupla argentina entende-se bem. Os lances de perigo que criaram são exemplo disso. Saviola atirou ao poste, aos 44 minutos. Depois foi a vez do camisola 20 fazer abanar a baliza de Peiser, aos 67 (fica, contudo, a sensação de que o guarda-redes ainda toca na bola). Tendo em conta que o Benfica defrontou uma Naval que defendeu com quase toda a equipa, os dois argentinos fizeram o que puderam, mesmo que nem sempre as coisas tivessem corrido da melhor forma, ou como poderiam correr.

Nuno Gomes - Voltou à titularidade, perante a ausência de Cardozo. O capitão não era titular, em jogos da Liga, desde a 27ª jornada da época passada. Aliás, esta foi a primeira vez que o «21» actuou de início na Liga, com Jorge Jesus - foi titular por duas vezes na Liga Europa, com o Vorskla e o BATE Borisov. O avançado português, que ficou fora das escolhas de Queiroz, não fez uma boa exibição, até porque nem sempre se «entendeu» com Saviola e acusou falta de ritmo competitivo.


Marítimo-F.C. Porto, 1-0


A 8 de Novembro de 1999, o FC Porto tinha perdido no «caldeirão» por 2-1. Este domingo, outro 8 de Novembro, os portistas voltaram a sair derrotados dos Barreiros onde já não perdiam desde a temporada de 2002/03. A equipa de Mitchell Van der Gaag travou mais um grande e a «laranja», leia-se equipa, deste técnico holandês está a jogar bom futebol, com uma grande atitude. Não está nada «gaag(a)» esta formação verde-rubra. Já o FC Porto só se pode queixar de si mesmo. Muito apático e sem pressionar, só apertou na parte final em desespero de causa. Não foi o suficiente.


Entretida a primeira parte. É o que se pode dizer dos primeiros 45 minutos do Marítimo- FC Porto, nos quais a equipa da Madeira mandou no jogo. Os portistas surgiram algo apáticos, dando muito espaço aos locais e procurando apenas um erro. E isso custou caro. É que os pupilos de Van der Gaag deram um «banho de bola e de humildade» à formação de Jesualdo Ferreira.

Foram sempre os verde-rubros a estar mais perto da baliza adversária, muito pelas acções de Alonso, Baba, Marcinho e Manú que foram complicando, e muito, a vida a uma defesa nortenha algo insegura e lenta. Importante também o capitão Bruno, que foi pautando o jogo da equipa ao seu ritmo. E bem diga-se. Ao minuto 22, após um cruzamento de Alonso, Djalma cabeceia com muito perigo mas por cima. Dando expressão à maior posse de bola e ao futebol desenvolvido, os maritimistas chegaram ao golo aos 29 minutos. Com algum felicidade é certo, pois o cruzamento de Alonso desviou em Rolando e enganou Helton.

Baba baralha defesa portista

Após o golo, os dragões tornaram-se um pouco mais atrevidos e após roubar a bola a João Guilherme, Hulk foi egoísta e perdeu uma boa situação com colegas em melhor posição de causar problemas. Mas os homens de Gaag não se intimidaram. E Baba por duas vezes esteve perto de bater Helton com dois excelentes cabeceamentos mas que saíram ligeiramente por cima.

Tempo de intervalo e Jesualdo Ferreira bem suspirou por tal, pois teria muita coisa para corrigir na sua equipa. O técnico mexeu no conjunto ao intervalo e lançou Mariano no lugar do apagado Guarin.

A reacção do FC Porto tardou em surgir. Os primeiros quinze minutos do segundo tempo não trouxeram nada de novo. Os actuais campeões não se aproximaram mais da baliza de Peçanha que tinha uma noite tranquila. O líder dos dragões lançou então Farías, reforçando o ataque, passando a meter dois homens entre os centrais do Marítimo.

No entanto, só de livre aos 69 minutos, por Bruno Alves é que os nortenhos ameaçaram a baliza verde-rubra. Muito pouco para quem estava em desvantagem. A toada da partida estava mais morna que na primeira parte. O Porto começa a tentar pressionar e a subir no relvado mas sem efeitos práticos. E foi até Marcinho que de longe tentou a sua sorte aos 78 minutos e com algum perigo.

Falcão desperdiça

No melhor lance que o Porto conseguiu, ao minuto 80, Falcão viu Peçanha negar-lhe o golo com uma excelente defesa. No lance seguinte, o mesmo Peçanha desviou para canto um remate de Raul Meireles. Os portistas acordaram finalmente. Mas abriam mais espaços e Baba, ao 83, viu Helton defender para canto um remate seu sobre alinha de fundo.

O Porto tentava a todo custo chegar ao empate mas sem grande imaginação e disso sabia tirar proveito a defesa local que chegava e sobrava para as acções ofensivas dos portistas. Afinal, sete anos depois, o FC Porto voltava a perder no «caldeirão». E recuando ainda mais no tempo, 10 anos depois, de novo a 8 de Novembro, os verde-rubros voltam a vencer os dragões. Gaag continua sem perder na Liga.

Baba sempre em acção - Foi sempre uma seta apontada à baliza de Helton. Baba não parou. Procurou a bola, tabelou, rematou, enfim... Trabalho imenso que complicou, e muito, a acção dos defesas do FC Porto. Só não esteve feliz na hora do remate.


Alonso com outra vida - Os adeptos do Marítimo já questionavam o valor do defesa brasileiro que brilhou no rival Nacional. Mas Alonso surgiu em grande, com muitas acções ofensivas e não dando hipótese a Hulk e Rodriguez. Também é de realçar que agora o esquerdino tem apoio de Marcinho, ou Baba, para poder desenvolver as suas capacidades ofensivas.

Fernando intratável - É madeirense e é o exemplo de raça e atitude que Gaag defende para a sua equipa. O central Fernando, sem «rodriguinhos», limpou toda a sua zona. E Falcão não pôde voar para o golo.

Peçanha garantiu vitória - Não teve uma noite de muito trabalho. Mas as duas intervenções que fez, já perto do final, a remates de Falcão e Raul Meireles garantiram que a sua baliza não fosse violada pelos avançados portistas. No resto, esteve sempre atento e seguro.

Falcão assustou - Uma noite de desacerto colectivo para o Porto. E só Falcão assustou com um bom remate que Peçanha defendeu. Este portista bem tentou, mas Fernando e «companhia» não lhe deram espaço para brilhar. Esteve perto de marcar já em tempo de descontos, mas a bola saiu por cima.

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