quinta-feira, 3 de julho de 2008

O NÃO Polaco



Designação oficial: República da Polónia

Área: 312.678 km2

População: 38,1 milhões (Jan. 2007, est.)

Capital: Varsóvia

Moeda: Zloty, PLN (1 EUR = 3,87 PLN, Abr. 2007)

Línguas oficiais: Polaco

Dia Nacional: 3 de Maio, 11 de Novembro

Data de adesão à UE: 1 de Maio de 2004

Chefe de Estado: Lech Kaczynski

Chefe de Governo: Primeiro-ministro Jaroslaw Kaczynski

Ministro dos Negócios Estrangeiros: Anna Elzbieta Fotyga

Sistema político: Democracia Parlamentar

Ultimas eleições legislativas: 25 de Setembro de 2005

PIB, em Euros (2006): 269,8 mil milhões

EURPIB per capita em PPP (2006): 12,600 EUR (est.)

PIB per capita em PPP (2006, média UE25=100): 51 (est.)

Crescimento económico real (Q4 2006, y-o-y): 6,6%




A Polónia promete estragar a festa de Nicolas Sarkozy. Ao anunciar que não irá rectificar ratificará um tratado "sem fundamento". E sem esperar a União Europeia, mergulhou mais fundo na crise de onde tentava sair desde o "não" irlandês.
As cores da União Europeia (UE) anda mal começavam a iluminar a Torre Eiffel, assinalando o início da Presidência francesa, e já o presidente polaco esgrimia argumentos contra o Tratado de Lisboa. Assumindo que não irá assinar um documento (entretanto já ratificado pelo Parlamento) que considera "sem fundamento" depois da recusa irlandesa.
As afirmações de Lech Kaczynski a um diário do seu país provocou um forte amargo de boca no primeiro dia da Presidência francesa da UE, já de si marcada pelo não Irlandês, que Nicolas Sarkozy queria apagar apostando os seis meses de mandato na promoção de políticas de imigração, ambientais e de defesa comuns. As afirmações do presidente polaco corroboram nas recentes, afirmações do presidente da República Checa, exigindo respeito pelas decisões democráticas dos países. Vaclav Klaus, de resto, já veio a público apoiar a posição do seu homólogo polaco.
O presidente francês também reagiu às declarações com um misto de irritação e diplomacia. Não quer imaginar, disse, que Kaczynski - que assinou o documento em Bruxelas e em Lisboa - "possa pôr em causa a sua própria assinatura".
O caso polaco é paradigmático dentro da União Europeia.
País situado entre dois gigantes que disputam a supremacia continental - a Alemanha e a Rússia -, encontra no atlantismo a garantia da sobrevivência da plena autonomia que ao longo dos últimos duzentos e cinquenta anos, têm sido intermitente. Após as partilhas celebradas pela Prússia, Áustria e Rússia e a obtenção da independência no rescaldo da I Guerra Mundial, a Polónia viveu sempre na incerteza das suas fronteiras. Em 1919, os patriotas reivindicavam a plena restauração do conjunto territorial anterior aos esbulhos, mas a realidade imposta pela própria construção de um Estado viável, concedeu-lhe um espaço menos relevante, mas de desmesurada extensão e de uma composição étnica heteróclita, onde as minorias nacionais - alemãs, russas, ucranianas ou lituanas - olhavam para lá das fronteiras da Nova Polónia, vislumbrando o dia de retorno ao convívio das respectivas pátrias mãe. O resultado das conferências Aliadas de Teerão, da Crimeia e de Potsdam, consistiu sobretudo, no dilema que durante anos se colocou à coligação anti-alemã, pois a Polónia tinha que ser restaurada na sua plena independência. Embora os britânicos contemporizassem com os desígnios do governo polaco no exílio (Londres) - o regresso às fronteiras de 1939 -, os soviéticos tornaram clara a intenção de manter os territórios bielorrussos e ucranianos que o pacto Ribbentrop-Molotov outorgara à URSS. A solução consistiu na atribuição de todo o leste da Alemanha à reconstruída Polónia. Estes procedimentos compensatórios desde sempre foram considerados com a naturalidade imposta pelo maquiavelismo da realpolitik dos vencedores, mas o que se tornou inédito, foi o sistema adoptado para a transferência da Silésia, Pomerânia e sul da Prússia Oriental para a administração polaca. Mais de sete milhões de alemães foram sumariamente expulsos do seu património ancestral - tal como ocorreu nos Sudetas -, num processo de total limpeza étnica que não se diferenciou muito do gizado plano do Drang nach Osten das autoridades do III Reich. O presente envenenado que os polacos foram obrigados a aceitar, continua a ser uma permanente e irritante questão de insegurança e incerteza, pois não se trata de uma aquisição de um território de além-mar. Muitos daqueles que nasceram e viveram no leste alemão, são hoje anciãos e não pretendem decerto qualquer aventura agressiva de restituição, mas o simples facto - que os polacos intimamente reconhecem - da possibilidade de uma simples passagem da fronteira para uma visita a antigos lares e lugares de um passado talvez nostálgico para muitos, não é tranquilizadora. A Silésia e as outras províncias não se situam na Micronésia ou na África austral. O presidente polaco disso tem plena consciência, assim como deve saber pesar devidamente o grande poder económico da Alemanha, talvez o verdadeiro e único motor da U.E., de quem a Polónia muito depende. Assim, a constante aproximação aos EUA não será decerto uma fase a ultrapassar pela política externa de Varsóvia. O inverso será mais previsível e ainda pode reproduzir-se noutros Estados recentemente subtraídos à suserania de Moscovo, como os países bálticos e a própria Ucrânia. Os diversos artifícios - habilmente apresentados como ligação natural - a que os nossos vizinhos periodicamente nos submetem à apreciação do El Dorado ibérico, nada são se os compararmos com a realidade potencialmente explosiva das permeáveis e inseguras fronteiras do leste. Sarkozy pode protestar e Barroso pode perder a paciência. Em vão, pois a Polónia não é Malta nem o Chipre. Conhece bem os riscos que o futuro lhe reserva e procura viver uma existência emprestada por uma compensação que não desejou mas à qual teve que se vergar, sob a mira dos canhões dos T-34 de Estaline e da pura irresponsabilidade e ignorância do presidente Roosevelt e da sua administração.

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