segunda-feira, 10 de novembro de 2008

valentes são os professores que tem de segurar o nosso triste Portugal


não nos peçam nada quando nada nos dão


Não é fácil imaginar profissão mais ingrata que a de um professor do ensino secundário público português: baixos salários, condições de trabalho rudimentares, indisciplina generalizada nas salas de aula, exercício da profissão sem autoridade, demissão dos órgãos directivos do exercício efectivo das suas responsabilidades, e, a cereja do bolo, a célebre “mobilidade”, própria dos servidores do estado napoleónico, que faz com que um cidadão de Mirandela, pai de filhos e exemplar chefe de família, tivesse que ir dar aulas a Silves para prover o seu sustento (esta situação parece, entretanto, abrandada pelo governo actual).O professor é o ponto nevrálgico de qualquer sistema educativo. Onde não houver professores bem tratados, isto é, a exercerem dignamente as suas profissões, não haverá escolas decentes. Para isso, seria necessário que os professores pudessem exercer o seu magistério nos locais onde têm família, ou onde residem em permanência; que tivessem escolas com conselhos directivos actuantes e com autoridade; que existissem infra-estruturas pedagógicas satisfatórias nas escolas (boas salas, boas carteiras, boas bibliotecas, acesso à internet e boas salas de informática, gabinetes de trabalho e salas de reuniões, etc.); que o sistema de avaliação existisse e não tivesse sido destruído por gerações de experimentalistas do Ministério da Educação; que lhes fosse permitido aceder a condições para se graduarem superiormente (mestrados e doutoramentos), de forma a poderem ampliar e melhorar os seus conhecimentos; e, last but not least, que não tivessem medo dos alunos.Ora, tudo isto está muito longe de acontecer nas escolas públicas, que são do estado português. Note-se que nas escolas privadas, as tais que estão sempre no topo dos rankings nacionais, este género de problemas não costuma verificar-se. Aí, quem avalia os professores e a qualidade de ensino são os proprietários das escolas e o mercado, isto é, os pais dos alunos que pagam o ensino que os seus filhos recebem.A conclusão é evidente: o ensino público deve ser privatizado, ou, pelo menos, passar da tutela centralista do Ministério, para órgãos políticos locais ou regionais.

Algumas medidas pela qualidade do ensino


1) Implementação de exames nacionais, todos os anos a partir da 4ª classe, que devem ser redigidos pelos professores que, nas suas respectivas áreas de especialidade, constituam a elite da corporação, em teoria, os professores mais experientes e mais graduados;

2) A partir do 5º ano, rotação anual dos professores, ou seja, em cada disciplina, os alunos devem ter professores diferentes todos os anos;

3) Introdução de um sistema de pontos que avalia o professor em função da diferença entre o aproveitamento escolar obtido pelos seus alunos nas suas turmas e no correspondente exame nacional no final do ano. Trata-se de um sistema diferencial que:
a) harmoniza as diferenças nacionais existentes entre os vários estabelecimentos de ensino espalhados por esse país fora e;
b) constitui um incentivo adicional para que os professores sejam rigorosos na atribuição das notas nas suas turmas, bem como na salvaguarda da qualidade do ensino nas aulas.

4) O sistema diferencial deve incluir as avaliações dos últimos três anos, representando um barómetro de qualidade assente numa perspectiva de médio prazo e permitindo esbater eventuais elementos subjectivos impossíveis de antecipar.

5) Os exames nacionais devem ser corrigidos pelos professores que, no ano anterior, se tenham classificado com as melhores pontuações do sistema de avaliação. Estes professores devem ser beneficiados através de aumentos salariais, promoções de carreira ou concessão de períodos sabáticos.

6) Os professores que piores classificações registarem, nomeadamente aqueles que se classificarem abaixo do percentil 10, devem ser demitidos a fim de se proceder à contratação de outros mais capazes.

7) Os professores devem fazer exames de acesso à carreira docente, em virtude da pouca qualidade do ensino superior público que ministra cursos de qualidade duvidosa.
8) Os alunos devem ser escalonados nas turmas em função das suas qualificações de modo a potenciarmos a competitividade saudável entre os discentes.

2 comentários:

Anónimo disse...

Se eu fosse dar aulas assim... bem, os alunos nunca faltariam!!!

Não sei se a aprendizagem seria muita...

Beijinhos doces!

Ilidio Sousa disse...

Amigo, confesso que lutei, mas não consegui resistir. Então cá vai disto:

Ponto 1 – Implementação de exames nacionais, todos os anos a partir da 4ª classe, que devem ser redigidos pelos professores que, nas suas respectivas áreas de especialidade, constituam a elite da corporação, em teoria, os professores mais experientes e mais graduados;

Em teoria até concordo com os exames anuais, se estes tiverem como objectivo avaliar o desempenho dos alunos e aferir o desenvolvimento das competências fundamentais. Auxiliando assim, a detecção precoce de eventuais lacunas.
Quanto a serem redigidos por uma “ELITE DA CORPORAÇÃO”, até sinto arrepios!!!
Que Elite é que estamos a falar?
- os professores mais experientes e mais graduados. Experientes são quais? Os que já os fazem, a maioria dos quais não dá aulas e faz os exames que, ano após ano, dão barraca. Ou são a elite dos que dão aulas à mais tempo e continuam a aplicar as teorias da educação do tempo em que tiraram o curso e ainda não entenderam que as coisas mudaram significativamente. Ou então, serão aqueles que de tanta experiência ainda não tiveram tempo para aprender a mexer num computador ou num scaner e ainda fazem os testes com recortes e colagens. Farto de uma elite experiente e incompetente anda a escola portuguesa há já muitos anos. Basta procurar nas escolas, por quem são desenvolvidos os melhores projectos, os trabalhos mais aturados, as experiências educativas mais inovadoras. Salvo raras e honrosas excepções estes trabalhos são desenvolvidos pelos professores mais novos e supostamente MENOS EXPERIENTES.
Sobram os mais graduados, resta saber que grau é esse? Serão os professores titulares (esses “gurus” da educação)? Será o grau académico, os mestres e doutores? Muitos de formação duvidosa!
Mais do que isso, acho que esses exames não devem ser nacionais, nem produzidos pela escola, sob pena de se subverter uma ideia interessante. Devem sim, ser da responsabilidade das estruturas regionais de educação (exemplo DRE), com pessoas nomeadas para o efeito, não porque pertencem a uma pseudo-elite, mas pela sua reconhecida COMPETÊNCIA.
Permitiria ainda às Direcções Regionais uma aferição sistemática do panorama educativo regional e uma política educativa de proximidade, canalizando acções especiais para casos particularmente graves (áreas com carências educativas especiais). Além de outras potencialidades.


Ponto 2 – A partir do 5º ano, rotação anual dos professores, ou seja, em cada disciplina, os alunos devem ter professores diferentes todos os anos;

Julgava, pelos vistos mal, que era consensual que existe um vasto leque de vantagens em manter o professor ao longo do ciclo. Só é pena que isso não possa acontecer mais vezes. Pois permite um acompanhamento mais próximo, individualizado e pormenorizado a nível pedagógico e inter-relacional.
Nos casos em que a turma é brindada com um professor incompetente, o sistema deverá ter mecanismos para o afastar, desses e de todos os outros alunos. Não é solução fazer rodar um incompetente por várias turmas. Só espalha a desgraça.


Ponto 3 e 4
3) Introdução de um sistema de pontos que avalia o professor em função da diferença entre o aproveitamento escolar obtido pelos seus alunos nas suas turmas e no correspondente exame nacional no final do ano. Trata-se de um sistema diferencial que:
a) harmoniza as diferenças nacionais existentes entre os vários estabelecimentos de ensino espalhados por esse país fora e;
b) constitui um incentivo adicional para que os professores sejam rigorosos na atribuição das notas nas suas turmas, bem como na salvaguarda da qualidade do ensino nas aulas.
4) O sistema diferencial deve incluir as avaliações dos últimos três anos, representando um barómetro de qualidade assente numa perspectiva de médio prazo e permitindo esbater eventuais elementos subjectivos impossíveis de antecipar.

Uma das razões pela qual defendi, no ponto 1, que o exame deveria ser realizado fora da escola, prende-se com esta questão. O professor não pode redigir um exame que, em última análise, também contribuirá para a sua avaliação. Porém, este jamais poderá ser critério único para a avaliação dos professores, embora o considere um dos mais interessantes para analisar a eficácia do professor e que sem dúvida deveria ser tido em conta.

Ponto 5 – Os exames nacionais devem ser corrigidos pelos professores que, no ano anterior, se tenham classificado com as melhores pontuações do sistema de avaliação. Estes professores devem ser beneficiados através de aumentos salariais, promoções de carreira ou concessão de períodos sabáticos.

Todos os anos? Isso era fantástico! Mas a tutela não deve estar muito para aí virada.

Ponto 6 – Os professores que piores classificações registarem, nomeadamente aqueles que se classificarem abaixo do percentil 10, devem ser demitidos a fim de se proceder à contratação de outros mais capazes.

Trabalhar com percentis é complicado neste caso, significaria que os 10% de professores piores classificados em cada ano seriam despedidos. Pois o percentil 10, não é mais nem menos que os piores 10% da totalidade de um universo.
Já se a referência é em relação ao diferencial entre nota dada e nota do exame, concordo que os professores classificados abaixo do percentil 10, deveriam ser barrados com mel e largados junto de uma família de ursos pardos famintos. Já que significaria que o professor teria avaliado com nota 5 a totalidade dos alunos (ou quase) e que todos eles (ou quase todos) teriam obtido nota 1 no exame. Pouco provável.

7) Os professores devem fazer exames de acesso à carreira docente, em virtude da pouca qualidade do ensino superior público que ministra cursos de qualidade duvidosa.

O Ensino Superior tem qualidade duvidosa e quem faz o exame é o professor!!! Sobra sempre pró mexilhão!!! Ao criar um sistema onde todos entram, bastando para tal esperar pela sua vez na lista, nunca se poderá garantir a qualidade, por melhor que seja o Ensino Superior e o nosso não se recomenda!

8) Os alunos devem ser escalonados nas turmas em função das suas qualificações de modo a potenciarmos a competitividade saudável entre os docentes.

Confesso que não percebi a lógica. Qual é a relação entre a constituição das turmas e a competitividade entre docentes??????????