quarta-feira, 18 de junho de 2008

Mais discursos - o da Conferências do Atlântico - 2005

Cartaz 3ª Conferência


Discurso de Abertura 2ª Conferência do Atlântico

Exmo Sr Presidente do Governo Regional da Madeira;
Exmo. Sr. Secretário de Estado do Turismo
Exmo. Sr. Secretário Regional do Turismo;
Exmo. Sr. Magnifico Reitor da UMA
Exma. Srª. Presidente da Assembleia-geral da AIG;
Exmos. Colegas da Direcção da AIG;
Demais personalidades, minhas senhoras e meus senhores;
Excelências


Bom dia a todos e muito obrigado por se juntarem a nós nesta manhã, mau grado as vossas ocupadas agendas. A vossa presença honra-nos e por isso esperamos que o programa que aqui vos apresentamos cumpra as expectativas e acima de tudo seja útil.
É com especial emoção que inicio os trabalhos desta conferência, subordinada à competitividade e sustentabilidade dos destinos turísticos, organizada conjuntamente pelas Universidades
da Madeira, e de Aveiro e pela Associação
Insular de Geografia. Juntos, penso que formamos uma equipa vencedora.
Trata-se da primeira vez que estas instituições se juntam, para organizar um evento desta natureza e, repito, a experiência prova-nos que formamos uma equipa vencedora. Gostaria de agradecer a todos aqueles que com a sua dedicação e esforço tornaram esta conferência possível, e que nestes dias, nos vão permitir um intercâmbio de boas práticas e de experiências de sucesso.
Hoje temos aqui reunidos os principais agentes de mudança, sem dúvida as pessoas mais bem posicionadas para nos conduzirem em direcção aos desafios que o futuro nos reserva.
Mas antes de continuar devo confessar que estou muito tenso e digo isto, porque aprendi com o professor Paulo Freire que devemos dizer a quem nos houve os nossos anseios e os nossos medos.

Gostaria agora de falar resumidamente do papel da Associação Insular de Geografia e o seu contributo para as conferências do Atlântico.

Para começar gostaria de recordar uma afirmação do Prof. Jorge Gaspar
“A constituição de uma Associação de Geografia na Região Autónoma da Madeira é um acontecimento relevante para a vida científica e pedagógica da região e um marco na História da Geografia portuguesa”.

A Associação Insular de Geografia nasce num contexto geográfico, somos Geógrafos e a geografia é por excelência a ciência do harmonioso desenvolvimento sócio-intelectual e da consciencialização para a importância dum desenvolvimento sustentável, cada vez mais importante para a própria subsistência da Humanidade, já dizia o grande mestre Orlando Ribeiro
“a geografia é por excelência, a disciplina do conhecimento integrado, pois engloba o conhecimento das ciências exactas e das ciências humanas”
– a Geografia é e deve ser uma área fundamental na formação do cidadão.
A unidade dos Geógrafos, sejam de investigação ou ensino é um dos nossos desideratos, não podemos continuar à deriva, está chegada a hora de definir um rumo e procurar o norte, pois partilhamos os mesmos objectivos – a promoção e a defesa do papel do Geógrafo e da Geografia na sociedade.
Não consigo aceitar o fatalismo da história, que nos quer condenar a uma posição periférica no ramo do conhecimento, relegando-nos para o papel de ciência auxiliar de coisa alguma.
Temos pois que nos assumir como a ciência do espaço geográfico, da Europa, da geopolítica mundial, do multiculturalismo, do ambiente, do desenvolvimento sustentável, do Turismo, do planeamento e ordenamento do território, da população e do povoamento, da sociedade e das suas movimentações. Temos de assumir o nosso compromisso ético-deontológico, com a formação das novas gerações na área do conhecimento Geográfico, nesse sentido sinto que está chegada a hora de pensar num quadro deontológico e ético para a geografia.
Para ser coerente parece-me que está chegada a hora de lançarmos a nós próprios um desafio … Criar a Ordem do Geógrafo.

Depois deste desafio, ou melhor de um grande desafio, gostaria de reflectir convosco sobre 3 questões que me deram que pensar:

A 1º– Prende-se com a relação existente entre o turismo e a geografia:

Parece-me que a Geografia e o turismo são indissociáveis. Muitos dos instrumentos do turismo são conceitos e conteúdos específicos do saber geográfico, como a natureza a paisagem o lugar e o território.
A Geografia é a ciência que promove a consciência do território, contribui para nele sabermos organizar-nos e para nele sabermos viver melhor.
Aliás, o território é o suporte da actividade turística, esta é, em essência, uma prática social, mas uma prática agregada ao mercado que tem no território o seu principal objecto de consumo. Nesse sentido, o turismo é uma actividade transversal, na medida que envolve vários sectores, por esse facto, a transversalidade da ciência Geografia, torna-a imprescindível e numa mais-valia para o turismo.
Tenho um carinho especial por esta temática. Que não deve ter uma abordagem simplista e compartimentada na geografia do turismo, mas antes uma análise de um geógrafo – global e pluridisciplinar, assente numa visão holística do sector.
Daí a nossa participação nesta Conferência.
A 2º questão de reflexão relaciona-se, com a competitividade dos destinos turísticos?
Por excelência o turismo é uma área de afirmação das riquezas e diversidades nacionais, de transmissão da cultura e da partilha de um modo de vida. Através deste sector, dão-se e recebem-se imagem, dos lugares, dos países e fixam-se ao imaginário marcas que pese a redundância marcam, quer seja ao visitante, quer do anfitrião.
Não estará a tão desejada Europa dos cidadãos intrinsecamente ligada ao conhecimento mútuo das várias realidades, que nos identificam com o território? Esta identificação, encontra-se na maior parte das vezes, decantada a partir dos encontros, das viagens, dos itinerários e navegações, que vamos fazendo e dos quais vamos traçando um roteiro pessoal, que nos permite construir, mais cedo ou mais tarde, a nossa identidade, regional, nacional e europeia.
Esta identidade que se pretende, é o paradigma inconsciente de todos os viajantes, e é naturalmente a matriz de qualquer campanha de divulgação turística, seja escrita ou visual.
Como última questão de reflexão - Temos o futuro do destino turístico de Portugal no contexto internacional
Eu não tenho dúvidas do sucesso internacional de Portugal como grande destino turístico.
Pois na realidade todos nós de imediato somos invadidos por um vasto conjunto de imagens mentais: da pérola do Atlântico, às ilhas encantadas, passando pelo pequeno rectângulo num total de 92.152 km2 da mais pura beleza e encanto, um país debruçado sobre o Oceano Atlântico; com uma tão grande variedade de paisagens, todas elas diversas e contrastantes; alternando extensos areais com arribas e cabos que avançam pelo Oceano adentro; a boa temperança do clima; a riqueza ímpar do nosso património cultural, resultado do cruzamento de tradições, influências e estilos seculares; a riqueza das artes tradicionais, especialmente o bordado, os vimes e o fado; o nosso modo de estar, que dá sentido à palavra hospitalidade, a nossa capacidade de organização inovadora e arrojada; a arte da nossa literatura; os sabores da boa mesa; os reconhecidos néctares tão influenciados pelos solos e pela exposição solar das vinhas, especialmente o Madeira e o Porto.
Por tudo isto que vos expus Portugal naturalmente, apareceria como uma ilustração do paraíso, o que naturalmente resolveria per si a questão da sustentabilidade do sector – o que naturalmente só nos poderá fazer sorrir.
Mas, falando de destinos turísticos, o certo é que muitas são as razões que abonam a favor da escolha do nosso país em geral e da Madeira em particular entre os numerosos lugares, cheios de atributos e qualidades, que existem à superfície da terra. Se não, recordemos alguns desses fortes motivos:
-a singularidade da geografia portuguesa, o país europeu mais a sul que possui uma extensa fachada atlântica, com a sua magnífica natureza, praias e inúmeras áreas protegidas. Em curtas distâncias, Portugal oferece uma enorme variedade de paisagens, do mar à planície, da montanha às dunas e lagunas, passando pelas ilhas, com o lote correspondente de opções de lazer.
-O clima e o sol radioso, as temperaturas suaves e a luz intensa. Com Invernos clementes e Verões amenos.
-A diversidade e a qualidade da oferta turística, a nível dos serviços, da hotelaria (não estivéssemos num dos melhores hotéis da Europa) e de infra-estruturas modernas – onde a Região Autónoma da Madeira é o melhor exemplo, bem como as inúmeras opções de actividades de lazer, como os desportos náuticos e a prática do golfe, a pesca, a caça, a equitação ou o turismo rural, para citar apenas alguns exemplos;
-A enorme riqueza gastronómica, que varia de região para região, que alia os sabores genuínos da terra, aos produtos frescos e naturais a que se juntam os sabores da antiga cozinha tradicional portuguesa sem esquecer os premiados e muito apreciados vinhos de mesa;
-A variedade da oferta cultural, baseada na riqueza do nosso património artístico, conjugada ao dinamismo e à animação, especialmente o ambiente cosmopolita nos centros urbanos com um leque muito diversificado de opções lúdicas, que vai das artes ao desporto, dos festivais de música, às festas populares, sem esquecer os grandes eventos, como foram por exemplo a EXPO 98, o EURO 2004, o Rock in Rio ou a entrega dos prémios MTV Europa;
-O carácter hospitaleiro e aberto dos portugueses, com a sua natural afabilidade, cortesia, espírito comunicativo e disponibilidade;
Todas estas razões, a somar ao facto de termos enquanto país, uma forte vocação universalista e uma arte de viver própria e multi-facetada, fazem de Portugal um destino turístico de eleição, que urge preservar, pois é património das gerações presentes e garantia de futuro das próximas gerações.
Foi pois por acreditarmos nas múltiplas valências da nossa região e do nosso país que apostamos em reunir aqui, na sempre bela ilha da madeira um conjunto de especialistas que pelo seu percurso muito poderão contribuir para o desenvolvimento sustentável do sector do turismo no nosso país permitindo com o seu contributo participar nas soluções para podermos ser competitivos a nível global.

E para não me alongar muito mais gostaria de em jeito de Conclusão afirmar convictamente

Esta conferência contribuirá significativamente para promover o debate regional e nacional acerca deste sector que hoje já é vital para o nosso desenvolvimento. Temos o privilégio de ter connosco alguns dos mais dedicados e capazes peritos na área do turismo.
Muito obrigada pela vossa atenção e deixo-vos recordando o poeta – … antes que venha o Inverno e disperse ao vento essas folhas de poesia que por aí caíram, vamos escolher uma ou outra que valha a pena conservar … e esperemos que no futuro possamos dizer em relação à 2ª Conferência do Atlântico que valeu a pena preservar estas folhas, pois representam a dinâmica, o empreendorismo e a capacidade de juntar sinergias, o acreditar num futuro que com o esforço de todos só poderá ser promissor.


… obrigada e bem hajam…


Joaquim José Sousa

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