quarta-feira, 18 de junho de 2008

o discurso de uma das Galas de Mérito - 2006

Cartaz da Gala

Discurso - 3ª Gala de Mérito Académico


Exmo. Sr. Secretário Regional de Educação
Exmo. Sr. Director Regional de educação
Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal da Ponta do Sol
Exma. Sr.ª Presidente da Assembleia-geral da AIG
Exmos. Senhores convidados
Caros Colegas
Caros alunos e alunas
Minhas Senhoras e meus Senhores
Excelências

Neste dia em que premiamos a excelência saudámos todos os agentes educativos aqui representados. Esta é uma data festiva, em que a escola se reencontra consigo mesmo para celebrar a razão da sua existência – o re-conhecimento do mérito e o desenvolvimento daqueles que são o futuro de qualquer sociedade – os jovens.
Não é preciso explicar o motivo pelo qual premiamos o mérito.

Deste está refém o nosso desenvolvimento. A partir dele sempre resultou o que de melhor existe na portugalidade: uma vontade granítica de triunfar, uma frontalidade orgulhosa e leal, a indomável ambição de ser maior. Aqui, com estes jovens, através da sua alma livre da sua capacidade de trabalho e de palavra, residem os valores mais perenes do País.

O balanço de um ano lectivo é a ocasião mais propícia para pensarmos no futuro. Não comemoremos esta efeméride como um ritual passadista em que se exaltam as diferenças.

Assinalamos o mérito académico, como uma perspectiva do trabalho feito e uma visão para o futuro.

Possível com o aumento do rigor, do esforço e do grau de exigência colocado a TODOS os agentes no processo educativo (alunos, famílias, docentes e poder político).

Onde a Escola é entendida como um local de trabalho e fruição e o Professor como alguém que não é um mero gatilho da aprendizagem, mas um guia dessa aprendizagem, qualificado para o efeito e digno do respeito dos seus alunos, dos seus pares profissionais, das famílias e da sociedade.

Nós portugueses recebemos a herança de um passado ilustre. Mas temos de estar conscientes de que a melhor forma de evocar a História é enfrentando os desafios que o País tem hoje pela frente.
Recordo a obra de Camões que traduz nela mesma esse misto de orgulho pelo passado e de preocupação pelo amanhã que deve presidir às opções que temos continuamente de fazer.

Nesta gala celebramos aqueles – alunos, professores encarregados de educação que não se conforma com a falta de ambição e que conhece o êxito em muitos sectores onde quiseram e se souberam afirmar. O país que quer olhar o futuro com determinação, coragem e vontade de vencer.

Hoje gostaria de interpelar directamente, todos e cada um, exortando-os a reflectir sobre o que desejam e o que se dispõem a fazer pelo nosso futuro comum.

Entre os nossos antepassados e as gerações vindouras, qual o papel que nos está reservado?

Que país ambicionamos, um País mais rico? mais justo?, uma sociedade que não seja atravessada por tantas assimetrias e desigualdades? um território mais equilibrado no desenvolvimento de todas as suas parcelas?.

Para cumprirmos estes desejos temos um caminho, a formação que permite que os jovens possam sonhar independentemente da classe a que pertencem.

A insatisfação colectiva, que nos levou por mares tão longínquos, é um dos traços mais salientes do nosso destino comum. Mas também o é a coragem para enfrentar dificuldades. Sem ela, teríamos ficado reféns da resignação e nós na Madeira temos uma longa tradição enquanto construtores do futuro e para nós a construção do futuro é uma tradição que nos agrada manter.

Sabemos bem, e a história demonstra-o: o nosso futuro será essencialmente o que dele fizermos. Ninguém o fará por nós.

Quero, pois, fazer um apelo aos mais jovens não se resignem e não se deixem vencer pelo desânimo ou pelo cepticismo.

Isso seria indigno do nosso passado comum, um desperdício do nosso presente e o adiar do vosso futuro.

Meus senhores

Temos uma certa tendência para atribuir aos outros muito daquilo que nos acontece.

Damos a impressão de que não nos conformamos com as coisas e, no entanto, esmorecemos na vontade de as mudar.

Acreditámos que as riquezas da Índia, do Brasil ou da África ou que os fundos da União Europeia seriam suficientes para trazer o progresso por que ansiávamos.

Não nos devemos iludir. O mundo está cada vez mais interdependente, globalizado e competitivo, vivemos cada vez mais dependentes de nós próprios, da nossa formação, do nosso trabalho. As condicionantes que enfrentamos colocam-nos novas exigências, mas não nos impedem de realizar as nossas justas ambições.

O vosso futuro será, essencialmente, o que quiserem que ele seja. Nem mais, nem menos; nem melhor, nem pior.

Ser independente é acima de tudo ser responsável.

E a responsabilidade implica ter uma noção clara e exigente dos direitos, mas também dos deveres, colectivos e individuais, sem o que a exigência e as críticas não serão respeitadas como devem ser.

É, por isso, necessário fazer o balanço não só do que gostaríamos de ver feito mas também do modo como a nossa própria acção pode contribuir para que o resultado colectivo nos contente.

Foi-se instalando a ideia de que o Estado é, para o bem e para o mal, a raiz e a solução de todos os nossos problemas. E foi provavelmente dai que se formou a relação nem sempre amadurecida e responsável que por vezes temos com a própria cidadania.

Quando, por exemplo, nos alarmamos com o insucesso escolar dos nossos filhos, o primeiro impulso é atribuir todas as culpas ao sistema de ensino, aos responsáveis políticos, aos professores… Só raramente nos lembramos que a educação é uma tarefa da escola mas é também um dever da família, que não pode demitir-se do seu papel essencial na educação dos filhos e na transmissão dos valores que os devem guiar pela vida fora, como cidadãos e como pessoas completas e íntegras.

Assim como não existe a consciência que é fundamental reduzir os níveis preocupantes de alcoolismo, de tabagismo ou de obesidade, que persistem mesmo entre as camadas mais jovens da população.

Enquanto cidadãos olhamos indignados para algumas situações como por exemplo as estatísticas da sinistralidade rodoviária, que nos envergonham se comparadas às dos restantes membros da União Europeia, exigimos do Estado estradas seguras, forças policiais bem equipadas e campanhas de prevenção.

Esquecemos que tudo isso jamais será suficiente se o comportamento dos condutores não for prudente e não tiver respeito pelas regras estabelecidas e pelos outros. Não tenho receio de o afirmar: a nossa atitude nas estradas é um exemplo do País que não devemos ser.

Lamentamos ainda situações de degradação ambiental visíveis em muitas zonas. Mas não seremos todos também responsáveis, por acção ou omissão, pela poluição que invade os rios, pelo lixo que suja as praias, pela destruição do nosso património histórico e paisagístico?

Nestes, como noutros exemplos, esquecemos a capacidade individual e alguns dos mais importantes deveres de cidadania.
E são gestos simples, que estão ao alcance de todos, e que podem melhorar muito aquilo de que hoje nos queixamos.

Temos de fazer da ética da responsabilidade uma marca integrante do espírito de todos, sem a qual esforço, trabalho e riqueza serão desperdiçados.

Dirijo-me especialmente aos jovens, que já vivem com a noção do mundo global, que convivem e comunicam sem fronteiras, e que por isso têm conhecimento pleno de como é importante assumir e esperar dos outros uma cultura de direitos e deveres.

Nos jovens há um capital de esperança e um ímpeto generoso e exigente que não deve ser frustrado, antes estimulado e enaltecido, com bons exemplos em todos os sectores da vida nacional.

Hoje e aqui, desafio os jovens a pensar no futuro que querem e no que estão dispostos a investir na sua realização.

Todos queremos deixar às gerações vindouras a herança de um país social, cultural e economicamente mais rico, uma sociedade mais equitativa.Senhoras e senhores

Termino felicitando, na pessoa de sua excelência o Secretário Regional da Educação, do presidente da Câmara Municipal da Ponta do Sol e do director regional de educação e a todas as empresas que com o seu apoio permitiram que pelo 3º ano consecutivo sejam premiados os melhores alunos do 3º Ciclo e Secundário da Região Autónoma da Madeira.

Deixem-me antes de me despedir deixar-vos a todos o desafio de responder com ambição às perguntas com que um grande homem das letras portuguesas, o poeta Jorge de Sena, nos inquietou:
“Que Portugal se espera em Portugal?Que gente há-de ainda erguer-se desta gente?”

Sei que juntos poderemos responder. Portugal será aquilo que pretendermos.

Desejo, aos alunos presentes, as maiores felicidades na continuidade dos seus estudos que hoje aqui reconhecemos.

obrigado.

Joaquim José Sousa

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